SORRIR - 3ª parte
Passei a semana ansioso que o sábado chegasse, mas apesar de tudo não acreditava que ela fosse aparecer. Uma menina da Igreja, num bar, num sábado à noite, parecia um pouco Improvável…
Mesmo assim achava que estava a chegar a ela e que conseguia tirar-lhe aquelas ideias da cabeça e fazê-la “cair em tentação”. De qualquer forma estava à espera dela. Combinamos no bar por volta das 10 horas da noite. Já eram 10 e um quarto e nem sinais dela. Mandei-lhe uma sms a dizer: - “Então, desististe de vir? Ou estás-me a fazer esperar?” – Foi com algum espanto que a vi entrar, no momento exacto em que acabava de mandar a mensagem. Imediatamente fui ao seu encontro e sentamo-nos sozinhos numa mesa.
- Sinceramente, já estava muito duvidoso que viesses… - Disse-lhe, enquanto ela pegava no seu telemóvel e via a mensagem que acabara de lhe enviar.
- Desculpa a demora, fui à missa da noite e atrasei-me um pouco. – Respondeu-me.
- Foste à missa e a seguir viste para este antro de pecado?. Que escândalo! – Disse-lhe brincando um pouco com a situação.
- Já estive em sítios piores. – Respondeu, enquanto pedia um “ice tea de manga” ao empregado. Eu bebia calmamente uma cerveja.
- Mas uma menina de igreja como tu, não devia frequentar sítios assim. Onde pessoas se divertem, bebem um pouco… Deus não proíbe este tipo de coisas?
Ela deu uma gargalhada imensa e respondeu-me:
- Tu és mesmo ignorante no que diz respeito à religião! Deus fez-me livre, não me proíbe de nada. Deus quer que eu seja feliz e me divirta e deseja isso a toda a gente. – Parecia que
gozava comigo ao responder-me isto e de facto, a resposta surpreendeu-me. – Essa ideia de que alguém que assume ser cristão, não sai, não se diverte é totalmente retrógrada. Aliás, se queremos falar de Deus às pessoas, temos de sair cá para fora. E isso inclui festas.
- Muito bem, isso não aprendi na catequese. – Disse-lhe.
Passamos algum tempo na conversa da treta, fugindo por completo ao assunto da religião. Fiquei então a saber mais coisas sobre ela: que também não gostava de estudar, tinha
dificuldade a matemática e a sua melhor matéria era o inglês. Sabia tocar guitarra. Gostava de ler, embora não o fizesse com muita frequência, o seu autor favorito era Paulo Coelho. Gostava também de se passear pela Internet, aproveitei para lhe pedir o contacto do “Messenger”. E contou-me que por vezes pregava partidas à sua vizinha, que tinha como passatempo coscuvilhar.
A certa altura ela disse: - “Esta música é fixe”.- E levantou-se para dançar puxando-me com ela. Por incrível que pareça, sabia dançar bastante bem e acabamos por dançar um bom bocado, até que ficamos cansados e voltamos para a mesa. Começava a achar que aquela miúda não era a “santa” que dizia ser, o que não era de todo mau.
Ao chegarmos à mesa, cansados, pedi duas cervejas, uma para mim, outra para ela.
- Obrigado, mas não bebo álcool, prefiro um “ice tea”. – Disse ela rápido.
- Não sejas cortes, eu pago! – Disse-lhe.
- Não é questão de pagares ou não, eu é que não quero álcool.
- Porquê! Tens algum problema de saúde que te impeça de beber? – Perguntei-lhe.
- Claro que não, posso beber à vontade.
- Então qual é o problema? Pensei que Deus te tinha feito livre, não te proíbe de beberes uma cervejita, só uma! – Insisti com ela.
- Exacto, Deus fez-me livre, inclusive para dizer não. E eu estou a dizer não ao querer beber álcool. Já pensaste que muitas vezes dizes sim a coisas que te são prejudiciais? – Disse-me. Perdendo um pouco o ar descontraído. Creio que compreendi o que ela disse, estava a tentar obrigá-la a algo, portanto, a tirar-lhe a sua liberdade de escolha. Aceitei então a sua vontade. Este “incidente” foi rapidamente esquecido e retomamos a nossa conversa. Perdendo a noção das horas.
- A que horas tens de estar em casa? – Perguntei-lhe assim que olhei para o relógio.
- Não tenho hora, os meus pais confiam em mim.
- Óptimo, fiquei aliviado e ao mesmo tempo, surpreendido com a tua resposta, é que já são duas e meia.
- Por acaso está-se a fazer tarde! E preciso de descansar. Gostei de estar contigo esta noite. Foi agradável. – Disse-me, como sempre, sorrindo. Ainda a tentei levar a casa, mas ela tinha vindo de scooter e delicadamente não aceitou o meu convite.
1 Comments:
Ora aqui está uma grande verdade: Quem disse q os jovens cristãos n podem sair a noite? 1º acho q tb é importante divertirmo-nos enquanto temos idade para isso, e depois como diz a "Ana", Deus fez-nos livres: inclusive para dizer nao! E assim, ela tb soube dizer que nao, qd achou que devia!
Admiro-me que nos dias de hoje, as pessoas ainda tenham este tipo de pensamentos: parece q os jovens sao vistos como vândalos, e q aqueles q praticam uma religiao têm de ficar trancados em casa, em vez de sairem e de se libertarem do stress da semana! Esta 3ª parte mostra tb,em parte, alguns preconceitos e a forma como talvez poucos de nós conseguimos lidar com eles... Acho q tas a conseguir uma boa história, Tó! :)
Beijinhos*
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